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sábado, 29 de outubro de 2011

A gravidez das estudantes e a educação pública

A sexualidade é a linguagem do cotidiano. Utilizamos de termos ligados ao sexo em diversas de nossas conversas corriqueiras. O sexo que em outrora já fez parte da vida íntima, é atualmente cada vez mais público. As músicas, os filmes, a moda, as propagandas, e também a educação.

 Na sala de aula, é muito comum professores associarem o tema de suas aulas com sexo, ou fazerem piadas de duplo sentido como estratégia para chamar a atenção das turmas. Portanto, o sexo está presente em nosso cotidiano das mais diversas formas. Todavia, boa parte da sociedade tem ignorado. E assuntos como a gravidez adolescente, e consequente maternidade e paternidade juvenil, tem sido associados a perspectivas morais bem conservadoras.

Nas escolas de uma forma geral, quando uma menina fica grávida, normalmente ela é chamada de vagabunda e irresponsável. Comentários, como "mais uma mãe solteira no mundo", ou, "por que está menina não fechou as pernas?" são muito comuns.


Dentro desta perspectiva profundamente fundamentada em preconceitos e moralidades ultrapassadas, a Secretária Estadual de Educação do Rio de Janeiro incluiu no programa GIDE, um sistema avaliação de desempenho das escolas:  "índice de estudantes grávidas". Este programa irá pagar gratificações para os profissionais de ensino das escolas, que atingirem as metas do GIDE. Um índice elevado de estudantes gravidas irá prejudicar a avaliação global da escola, e poderá fazer com que os profissionais do ensino tenham uma gratificação menor. Portanto, para a SEEDUC os profissionais do ensino, além de se preocuparem com suas aulas, devem se preocupar também com a reprodução de suas alunas.


O propósito é preconceituoso e ultrapassado, pois reforça a ideia da maternidade como uma responsabilidade exclusivamente da menina, pois reforça a irresponsabilidade do pai perante uma criança fora de uma relação como casamento. O preconceito social reforça isso no imaginário popular tratando e falando da mãe adolescente, e praticamente ignorando que possivelmente há um pai adolescente, também.

Esta proposta de controlar a reprodução das adolescentes é também esquizofrênico, anacrônico, pois esquece que gravidez antes dos 18 anos sempre ocorreu ao longo da história, sendo que as meninas, que se tornavam adultas mais cedo, normalmente casavam.

É importante salientar que as escolas destinadas a educação pública no estado do Rio de Janeiro, são destinadas, sobretudo as classes média, e baixa da sociedade. Neste sentido, há uma ideia de controle populacional presente de forma intrínseca no conteúdo desta proposta. O que me leva a crer, que o grande propósito de preocupação das pessoas, não é o sexo, ou gravidez, mas sim possivelmente o casamento.


É precisamos de um programa de educação de sexual nas escolas sim, mas que supere os preconceitos presentes na religião, na família e na própria escola. A sexualidade faz parte do comportamento social, cultural, político e econômico das sociedades. E isso é indiscutível.

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